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sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Leia O CASO DO "É QUE EU NÃO CONSEGUI DECORAR" e se divirta em mais um causo ocorrido entre as montanhas e o ambiente das Varas trabalhistas de Minas Gerais


O Caso do "É Que Eu Não Consegui Decorar"


Pressionado pelo juiz que queria saber algo da maior importância para o deslinde daquele processo e diante de uma série de perguntas feitas pelo meritíssimo, o Zé Alfredo – a única testemunha trazida por mim - vai e me solta um cruzado de esquerda diretamente no meu queixo:

- É que eu não consegui decorar, Doutor?

- Decorar? Mas como assim? – começa interpelando o juiz e olhando de cara feia na minha direção.

Que eu tinha a consciência tranquila em relação a instrução da testemunha, lá isso eu até que tinha. Desde que me formei e comecei a advogar, jamais me ocorrera instruir qualquer de minhas testemunhas. E com aquela em questão fora a mesma coisa. Prefiro perder uma causa, mas se existe coisa que não faço é instruir as testemunhas.

Numa hora dessas, porém, fica difícil provar qualquer coisa pro juiz, quaisquer espécies de coisas e ainda mais essa espécie de coisa.

- Não, não é decorar que eu quis dizer, seu juiz... é... Como é que é mesmo, doutor - disse o Zé Alfredo olhando agora na minha direção, como a me pedir ajuda ou algum tipo de colaboração. Logo pra mim que já estava me sentindo tão embaraçado.

Dei de ombros mentalmente e permaneci incólume, calado e quietinho no meu canto, aguardando aonde aquilo iria parar.

- O senhor está me dizendo que “decorou” as coisas que iria me falar – insistia o juiz - É isso mesmo? E quem lhe passou essa decoreba? Quem lhe passou, me diga?

- Não, não é “decorar” que eu quis dizer... É que em verdade eu me esqueci da palavra certa que deveria dizer e foi essa que me veio agora na cabeça.

- Ah, o senhor se esqueceu do que lhe disseram pra dizer, não é mesmo...?

- Não, seu juiz... Eu me esqueci... ah, acabei de me lembrar: é que eu não consigo me “lembrar” do que aconteceu e por isso não sei o que responder. Essas são as palavras certas que eu quis dizer naquela hora: “me lembrar”.

Não sei se o juiz acreditou na testemunha ou não. Vou aguardar ansiosamente o resultado da sentença para ver o resultado.

No entanto - e sinceramente - espero pelo pior nesse caso. Mas acho que o pior mesmo fora certa impressão com que eu saíra daquela sala de audiências. Me ficara a triste sensação de que na opinião daquele juiz eu sequer tivera a competência e a habilidade de fazer com que a minha testemunha decorasse de maneira correta as respostas que deveria dar.



Luís Antônio Matias Soares

Por: CURSINHO CONEXÕES DE SABERES 17:50 1 Comentario

Um comentário:

  1. Agradeço a publicação e a divulgação do meu trabalho literário. Muito obrigado ao site. Luís Antônio Matias Soares

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