Leia O CASO DO "É QUE EU NÃO CONSEGUI DECORAR" e se divirta em mais um causo ocorrido entre as montanhas e o ambiente das Varas trabalhistas de Minas Gerais
O Caso do "É Que Eu Não Consegui Decorar"
Pressionado pelo juiz que queria saber algo da maior importância para o deslinde daquele processo e diante de uma série de perguntas feitas pelo meritíssimo, o Zé Alfredo – a única testemunha trazida por mim - vai e me solta um cruzado de esquerda diretamente no meu queixo:
- É que eu não consegui decorar, Doutor?
- Decorar? Mas como assim? – começa interpelando o juiz e olhando de cara feia na minha direção.
Que eu tinha a consciência tranquila em relação a instrução da testemunha, lá isso eu até que tinha. Desde que me formei e comecei a advogar, jamais me ocorrera instruir qualquer de minhas testemunhas. E com aquela em questão fora a mesma coisa. Prefiro perder uma causa, mas se existe coisa que não faço é instruir as testemunhas.
Numa hora dessas, porém, fica difícil provar qualquer coisa pro juiz, quaisquer espécies de coisas e ainda mais essa espécie de coisa.
- Não, não é decorar que eu quis dizer, seu juiz... é... Como é que é mesmo, doutor - disse o Zé Alfredo olhando agora na minha direção, como a me pedir ajuda ou algum tipo de colaboração. Logo pra mim que já estava me sentindo tão embaraçado.
Dei de ombros mentalmente e permaneci incólume, calado e quietinho no meu canto, aguardando aonde aquilo iria parar.
- O senhor está me dizendo que “decorou” as coisas que iria me falar – insistia o juiz - É isso mesmo? E quem lhe passou essa decoreba? Quem lhe passou, me diga?
- Não, não é “decorar” que eu quis dizer... É que em verdade eu me esqueci da palavra certa que deveria dizer e foi essa que me veio agora na cabeça.
- Ah, o senhor se esqueceu do que lhe disseram pra dizer, não é mesmo...?
- Não, seu juiz... Eu me esqueci... ah, acabei de me lembrar: é que eu não consigo me “lembrar” do que aconteceu e por isso não sei o que responder. Essas são as palavras certas que eu quis dizer naquela hora: “me lembrar”.
Não sei se o juiz acreditou na testemunha ou não. Vou aguardar ansiosamente o resultado da sentença para ver o resultado.
No entanto - e sinceramente - espero pelo pior nesse caso. Mas acho que o pior mesmo fora certa impressão com que eu saíra daquela sala de audiências. Me ficara a triste sensação de que na opinião daquele juiz eu sequer tivera a competência e a habilidade de fazer com que a minha testemunha decorasse de maneira correta as respostas que deveria dar.
Luís Antônio Matias Soares
O Caso do "É Que Eu Não Consegui Decorar"
Pressionado pelo juiz que queria saber algo da maior importância para o deslinde daquele processo e diante de uma série de perguntas feitas pelo meritíssimo, o Zé Alfredo – a única testemunha trazida por mim - vai e me solta um cruzado de esquerda diretamente no meu queixo:
- É que eu não consegui decorar, Doutor?
- Decorar? Mas como assim? – começa interpelando o juiz e olhando de cara feia na minha direção.
Que eu tinha a consciência tranquila em relação a instrução da testemunha, lá isso eu até que tinha. Desde que me formei e comecei a advogar, jamais me ocorrera instruir qualquer de minhas testemunhas. E com aquela em questão fora a mesma coisa. Prefiro perder uma causa, mas se existe coisa que não faço é instruir as testemunhas.
Numa hora dessas, porém, fica difícil provar qualquer coisa pro juiz, quaisquer espécies de coisas e ainda mais essa espécie de coisa.
- Não, não é decorar que eu quis dizer, seu juiz... é... Como é que é mesmo, doutor - disse o Zé Alfredo olhando agora na minha direção, como a me pedir ajuda ou algum tipo de colaboração. Logo pra mim que já estava me sentindo tão embaraçado.
Dei de ombros mentalmente e permaneci incólume, calado e quietinho no meu canto, aguardando aonde aquilo iria parar.
- O senhor está me dizendo que “decorou” as coisas que iria me falar – insistia o juiz - É isso mesmo? E quem lhe passou essa decoreba? Quem lhe passou, me diga?
- Não, não é “decorar” que eu quis dizer... É que em verdade eu me esqueci da palavra certa que deveria dizer e foi essa que me veio agora na cabeça.
- Ah, o senhor se esqueceu do que lhe disseram pra dizer, não é mesmo...?
- Não, seu juiz... Eu me esqueci... ah, acabei de me lembrar: é que eu não consigo me “lembrar” do que aconteceu e por isso não sei o que responder. Essas são as palavras certas que eu quis dizer naquela hora: “me lembrar”.
Não sei se o juiz acreditou na testemunha ou não. Vou aguardar ansiosamente o resultado da sentença para ver o resultado.
No entanto - e sinceramente - espero pelo pior nesse caso. Mas acho que o pior mesmo fora certa impressão com que eu saíra daquela sala de audiências. Me ficara a triste sensação de que na opinião daquele juiz eu sequer tivera a competência e a habilidade de fazer com que a minha testemunha decorasse de maneira correta as respostas que deveria dar.
Luís Antônio Matias Soares
Agradeço a publicação e a divulgação do meu trabalho literário. Muito obrigado ao site. Luís Antônio Matias Soares
ResponderExcluir